Internet
Estudante revela exposição sofrida na web
Terça-feira, 01 de fevereiro de 2011 - 21h11
SÃO PAULO - Naína Yamasaki, uma estudante de 21 anos sentiu o lado cruel da internet quando um vídeo no qual mantinha relações sexuais com seu namorado vazou.
A agressividade dos acontecimentos fez Naína largar a faculdade e apostar em horizontes estrangeiros. Com muita garra ela decide, dois anos depois, pela primeira vez contar como se sentiu e apresentar os problemas que vive, neste caso que representa como somos frágeis e desprovidos de proteção na web.
Em 2008, a estudante de publicidade e propaganda Naína estava no ápice dos seus 19 anos. Ela já nem se lembrava de um vídeo, feito com seu namorado quanto tinha 16 anos, nem mesmo imaginava que poderia ter sua imagem explorada, invadida e agredida por aqueles que considerava próximos. “Fiquei uma semana sem dormir, sem comer, sem sair de casa que não fosse para ver a advogada”, lembra Naína com pesar sobre o incidente que lhe afeta até hoje.
O vídeo gravado, aquele que Naína esqueceu de excluir de seu computador, de alguma maneira chegou à faculdade. “Depois de um tempo meus amigos me contaram que todos na faculdade estavam vendo o vídeo. Havia baderna no C.A [centro acadêmico] e no D.A., as pessoas trocavam pendrives”. Mas o pior foi quando Naína sentiu a velocidade cruel da rede. Com buscas no Google sobre ela própria e sua mãe, Tizuka Yamasaki (Gaijin - Ama-me como sou, Lua de Cristal entre outros) descobriu que o vídeo estava se espalhando em blogs, sites e suprimindo qualquer outro resultado, inclusive notícias e informações de trabalho.
“Meu scrapbook estava cheio de mensagens maldosas de gente que eu não conhecia. Um monte de homens me adicionando. Digitei meu nome na busca do Orkut e vi dezenas de comunidades divulgando o vídeo, o link do meu perfil na rede, no Facebook, o Fotolog de quando eu tinha 15 anos, meu telefone, meu celular, meu endereço e falando que a garota do vídeo era filha de uma cineasta famosa”.
Em 2008, em meados de outubro e nos meses seguintes, podemos constatar a explosão do assunto no Google Trends, mas como é de costume na web, o assunto esfriou rapidamente. “As pessoas consideram esse tipo de crime banal, pois em um ou dois anos todo mundo esquece por que outras vitimas são expostas, mas não fazem ideia de como muda completamente a vida de alguém”.
E de fato, Naína convive com isso até hoje. Passados mais de dois anos do ocorrido, pesquisas no Google e Bing trazem ainda os conteúdos que associam ela ao vídeo, links para download em serviços como Rapidshare, EasyShare, Megaupload e muitos outros. O escritório de advocacia CAZ (de São Paulo), responsável pela defesa de Naína, não conseguiu comprovar o autor do crime. A suspeita, de que um dos companheiros de república de Naína acessou seu computador e copiou o vídeo, não pode ser comprovada tecnicamente. A Justiça expediu uma ordem de remoção do vídeo, pois além de expor a imagem de uma pessoa, se trata de pornografia infantil, já que Naína tinha 16 anos nas imagens.
“Os sites brasileiros e internacionais que conseguimos entrar em contato, apresentando a decisão da Justiça, removeram o vídeo. Mas há domínios que não temos acesso, principalmente os de pornografia e compartilhamento de arquivos”, informa Marina Coelho, advogada de Naína no caso.
Um pedido foi feito ao Google para remover as referências ao vídeo e ao nome de Naína, mas esse pedido foi negado. O Google explicou em ofício que a remoção não é possível. O caso foi arquivado em 2010, por falta de provas.
Felix Ximenes, diretor de comunicação do Google Brasil, afirma que esse caso se enquadra nos mais complicados. “Neste caso as tags são muitas vezes trocadas e os sites que compartilham o vídeo podem muito bem mascará-lo”. Felix também comenta que há duas possibilidades. Uma delas é notificar cada site e URL contendo o vídeo, que se trata de um conteúdo de pornografia infantil e pedir sua remoção. A outra, e mais drástica, que segundo Felix traz consequências ruins, é a remoção completa da pessoa dos resultados de busca. “Nesse caso seria como se a pessoa não existisse na internet. E isso prejudicaria ainda outras pessoas, já que um nome pode se referir não só a um, mas diversos indivíduos”, diz.
Indagado sobre o Google remover rapidamente sites que cometem trapaças para aparecer nas buscas e não esse tipo de conteúdo, Felix afirma que a remoção dos sites nestes casos pode ser feita automaticamente. Nos casos como os de Naína, isso não pode ser feito. Felix explica que a remoção deve ser manual, caso a caso e em contato com os proprietários de URLs que estão com o vídeo publicado. Com uma lista, indicando os endereços em que o vídeo aparece, o Google poderia bani-los preventivamente, até que sejam excluídos em definitivo dos sites.
O caso de Naína é complicado e serve como exemplo para mostrar como ainda estamos despreparados com a web. A ordem de remoção de conteúdo, expedida pela justiça, é válida somente no território nacional, isto é, para domínios brasileiros. A remoção do conteúdo em sites hospedados fora teria de ser travada em uma batalha na justiça de outros países. Um custo e esforço imensuráveis para as vítimas, afirmam os advogados de Naína.
O Bing, que nasceu no ano seguinte ao ocorrido, não foi notificado. Procurada pela redação da INFO Online, a Microsoft afirmou que este caso e outros que necessitem de denúncia, os envolvidos devem recorrer ao suporte do Bing, nestelink.
Mesmo o assunto tendo “esfriado” para a internet, ele teve consequências graves para Naína, que atualmente mora nos Estados Unidos. “Perdi a leveza da minha personalidade, a minha espontaneidade e fiquei meio neurótica. O que mais contribuiu para minha vinda a NY foi a vontade de não fazer parte de um mercado de trabalho repleto de pessoas que foram muito cruéis comigo e que parecem precisar de sofrimento alheio para se sentirem felizes e superiores”.
Hoje o comportamento padrão é buscar o nome de um candidato a qualquer vaga no Google. Essa checagem, simples e rotineira, com Naína remete ainda ao passado, trazendo os conteúdos que indicam o vídeo, o que pode ser uma barreira gigantesca na disputa por uma vaga. “Aqui em NY eu tinha medo que meu chefe descobrisse também. E num determinado momento, meses depois, ele me contou que antes de me contratar ele ‘googlou’ meu nome e soube de tudo. Ele se sensibilizou e disse que agora entendia o motivo da minha decisão de tentar fazer tudo de novo num outro país”.
Mesmo com a falta de provas para incriminar os responsáveis e com os problemas que ainda existem, Naína se considera vitoriosa. “Hoje eu estou muito feliz e animada com os caminhos que o vídeo me levou. Perdi a ingenuidade, aprendi que nem todo mundo é nosso amigo e o valor da nossa intimidade”, afirma.
Esse caso, e tantos outros que acontecem todos os dias, como as fotos de redes sociais utilizadas indevidamente em sites de encontros, pornografia, etc, salientam a nossa fragilidade digital. Enquanto tratarmos a web da maneira convencional, sem ferramentas para garantir nossa proteção, casos como esse e o dos garotos que fizeram sexo na Twitcam continuarão acontecendo.
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